quinta-feira, 4 de setembro de 2008

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Cianureto

Água-viva!
Labaredas cardíacas
e
estrias abissais
dançam a queimadura original

Pulso lençol!
Fino brilho,
O lapso do arco-íris
fissura o vaso Ming
Aurora mangas e flamboyants

Água-viva!
Gemido Hi-Fi,
As quelas de Oiá
As marés de Iemanjá
floriram pra mim o teu nome,
tuas mil pétalas...

Água-viva!
Djinn,
Tsunami,
Nacos de dia caem pela noite em teu nome
Espumam de rebotes os cavalos

Água-viva!
Carne e osso,
Tu...
Teus gestos fazem de mim a ponta do Iceberg
o Magma trancado na tua chave

Água-viva!
Monolito,
Brinquedo,
Há placa que aplaca teu conceito?
Perco ou ganho o teu jogo?
Posso plantar no jardim do teu peito?

Por que escrever?

...Escrevemos a partir de uma necessidade de comunicação e de comunhão com os demais, para denunciar o que dói e compartilhar o que dá alegria. Escrevemos contra a nossa própria solidão e a solidão dos outros. Supomos que a literatura transmite conhecimento e atua sobre a linguagem e a conduta de quem a recebe; que nos ajuda a conhecer-nos melhor para salvar-nos juntos. Mas "os demais" e "os outros" são termos demasiado vagos; e em tempos de crise, tempos de definição, a ambigüidade pode se parecer demais à mentira. Escrevemos, na realidade, para as pessoas com cuja sorte, ou azar, nos sentimos identificados. Os que comem mal, os que dormem mal, os rebeldes e humilhados desta terra, e a maioria deles não sabe ler. Entre a minoria que sabe, quantos dispõem de dinheiro para comprar livros? Pode-se resolver esta contradição proclamando que escrevemos para essa cômoda abstração chamada "massa"?...

- Eduardo Galeano